quarta-feira, 1 de junho de 2011

LÍBERO E DIRECTO, 11

A Bola

António Cagica Rapaz

Foi a mais bizarra das minhas aventuras como cronista amador, ocorrida nos primeiros anos da década de 80, altura em que eu colaborava simultaneamente na Gazeta dos Desportos e na Rádio Renascença.

Nesta última equipa, a super-equipa da Renascença, havia três jornalistas de A Bola que faziam o favor de ser meus amigos e que tinham palavras muito simpáticas sobre os meus escritos. Eram eles o Alfredo Farinha, o Aurélio Márcio e o Cruz dos Santos.

Com alguma frequência convidavam-me a ponderar a hipótese de passar para A Bola, deixando a Gazeta. Ora, apesar do prestígio do jornal A Bola e da simpatia dos três companheiros (sem esquecer o Carlos Pinhão), eu não queria abandonar a Gazeta onde me tratavam muito bem.

Eles iam insistindo, com alguma regularidade, mas eu ia ficando na Gazeta. Até que me aborreci quando a Gazeta (a braços com dificuldades), por duas vezes deixou de me pagar e, até, de me enviar o jornal. Sucede que, felizmente, eu não escrevia por dinheiro e crónicas houve que eu teria pago para escrever. Contudo, achei deselegante o que fizeram e à segunda, saí…

E assim aconteceu a minha entrada n’ A Bola, tendo começado por escolher um título para a rubrica. No enfiamento da jogada foi o que me ocorreu e que transmiti ao Vítor Santos a quem enviei a primeira crónica que tinha como personagem central Fernando Oliveira, meu companheiro da CUF.

A publicação demorou mais do que seria de esperar, mas acabou por sair, com belo destaque. Entusiasmado, enviei a segunda crónica que versava uma reviravolta estonteante do Dr. Manuel Sérgio na opinião que passara a ter sobre o treinador Meirim. O tempo ia correndo e a crónica não saía. Intrigado, telefonei ao Vítor Santos e acabámos por ter uma discussão acalorada, dado que ele se recusava a publicar a crónica por considerar insultuosas algumas das minhas opiniões.

Em verdade, vim a saber depois, já a primeira demorara a sair porque nela eu tocava no tema proibido das amplas liberdades post-25 de Abril. Pior foi quando, na segunda, eu aludia a convergências esquerdistas para explicar a inesperada amizade entre Manuel Sérgio e Meirim. Resumindo, acabei por desligar o telefone e por escrever duas linhas ao Vítor Santos dizendo-lhe que não valia a pena prosseguir, que tinha ficado muito honrado, mas que saía depois de ter tocado n’ A Bola uma única vez.

Na realidade, na época 69/70, já tinha estado à beira de criar rubrica Hoje escrevo eu, com a cumplicidade do Carlos Pinhão, projecto que só não se concretizou por pruridos idiotas da minha parte. Curioso é que, anos mais tarde, ainda voltei às páginas de A Bola, mais precisamente à última página, a convite e por extrema bondade do mesmo Carlos Pinhão, um jornalista brilhante e um homem maravilhoso.

E é assim que posso, sem mentir, incluir no meu currículo de cronista o prestigiado jornal A Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário