O Gil é dos nossos*
António Cagica Rapaz
Chamaram-lhe Hermenegildo, mas para nós foi sempre o Gil, um dos quatro Filipes, filhos do mar, amantes da baía que atravessavam em braçada larga.
O Gil é azul como o mar, como o céu, como o Belenenses que acompanhou, por que sofreu ao longo de uma vida que acabou na noite de ontem, nos braços do irmão Pedro, rodeado por amigos. Foi de repente, o coração ofereceu-lhe a suprema dávida de uma travessia rápida, poupando-o ao declínio, à solidão e à tristeza da velhice.
O Gil abalou, mar fora, olhando para trás, acenando, deixando em nós, os muitos amigos, o seu maravilhoso sorriso e uma grande saudade.
O Vítor Batista deve ter estado a acolhê-lo no outro extremo do mar da vida e já estarão, provavelmente, a retomar os comentários encalorados à volta do futebol...
O Gil é o "Zagaia", a praia, o muro da lota, o culto do sol, da camaradagem, da vida partilhada.
O coração não deixou que chegasse a velho e talvez tenha tido razão. Raras vezes o mar terá estado tão belo, tão calmo, tão azul como ontem. O mar era do Gil e o Gil é dos nossos...
* Publicado no blogue Sesimbra e Ventos em 12 de Fevereiro de 2006.
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